A força dos oligopólios e as alternativas que viram fake News

Boatos, fofocas e mentiras sempre alimentaram os noticiários e foram usados pela política para direcionar a opinião pública. Com a revolução digital, os chamados “factoides” ganharam uma nova conotação e ampliaram seu poder de atuação convertendo-se não somente num instrumento de manipulação, mas em um negócio lucrativo. Hoje, criar fatos falsos nas plataformas digitais que remuneram por likes e curtidas pode render alguns bons “trocados” em questões de segundos.

Mas a problemática em torno das fake News, que eclodiram com o advento das redes sociais e em 2018 passaram a ser a nova moda do momento está entrelaçada a outros três problemas da sociedade contemporânea: a crise da democracia liberal, a força dos oligopólios da comunicação de massa e a desfiguração do papel da comunicação pública.

É notório que a concentração dos veículos de mídia ocorre em níveis escandalosos no Brasil e mistura igrejas, partidos e políticos - quem hoje detêm o controle das emissoras ou de redes de radiodifusão e, consequentemente, o poder da informação e de direcionamento da opinião pública.

O resultado disso é a relação promíscua entre proprietários de empresas de comunicação de massa e o Congresso Nacional, o que justifica a tentativa de inviabilizar a aprovação de um marco regulatório, instrumento capaz de evitar oligopólios e, principalmente, que a informação esteja nas mãos de igrejas e partidos políticos.

Sempre que o assunto vem à tona há um esforço exacerbado para interditar o debate e taxa-lo de censura. Mas ao contrário do que pregam, nas democracias mais avançadas o marco regulatório afastou possibilidades de censura e os abusos por parte de grupos empresariais que concentram o controle da comunicação de massa. 


Parte II

Seria imaturo demais pensar que a internet surgiria como uma válvula de escape da massificação provocada pelos tradicionais veículos de mídia. Romperia o estereótipo da comunicação de massa, daria voz às minorias, libertaria a sociedade da dominação escravista daqueles que detém o controle da informação e quebraria as forças de resistência dos oligopólios na imposição e no direcionamento da massa em torno de seus interesses.

É fato que a revolução digital estabeleceu novos formatos de relacionamento humano. Descentralizou a informação, aumentou o acesso a novas fontes e diminuiu o poder de influência da grande mídia sobre sua audiência. Os formadores de opinião foram substituídos por líderes de opinião, oriundos de vários segmentos da sociedade.

Os tradicionais modelos de negócio faliram e a internet passou a atuar como grande mediadora da sociedade. Isso impactou no aparelhamento das igrejas e partidos, na concentração da propriedade dos meios de comunicação de massa e na formação de monopólios e oligopólios.

Outras plataformas de distribuição de conteúdo, como Google e Facebook que emergiram com o advento das mídias eletrônicas e hoje são monopólios mundiais, ameaçaram os tradicionais veículos que antes detinham o controle da comunicação de massa. Todo cidadão passou a ser produtor de conteúdo e perdeu-se o controle dessa produção.

Ntícias passaram a ser intencionalmente fraudadas com fins políticos e comerciais. As fake news se configuraram em um negócio lucrativo, mas não começaram com o advento das redes sociais nem mesmo com as eleições de Donald Trump.

Ameaçados por esse novo modelo de difusão da comunicação, os oligopólios viram nas fake news uma oportunidade de oficializar o poder da Imprensa de massa e passaram a monopolizar o filtro para detecção de notícias falsas. É comum hoje em dia ouvirmos dizer que somente os veículos da mídia tradicional podem dar o veredicto sobre a veracidade das informações propagadas nas redes.

Não à toa, hoje grandes empresas de comunicação encabeçam campanhas de combate às fake news como forma de criminalizar a mídia alternativa. Todos os veículos fora da linha ideológica da mídia tradicional, mesmo que prezem pelo ‘fact checking’, são tachados como propagadores de fake news. Fica, então, o questionamento se o que paira em nossa sociedade é realmente notícia falsa ou jornalismo falsificado.


Parte III (final)

Outro fator interligado a força dos oligopólios e à disseminação das fake news é o papel da comunicação pública, que está muito mais voltado aos interesses do mercado do que da sociedade. Hoje os investimentos públicos em publicidade chegam a ultrapassar os gastos dos maiores anunciantes privados.

Na maioria dos casos, esses investimentos incluem o financiamento de fake news, seja por meio de portais na mídia eletrônica, de perfis falsos ou até mesmo de robôs controlados por organizações e financiados com recursos públicos.

Enquanto não houver um instrumento regulador para assegurar que a comunicação pública seja de fato pública e não comercial abusos continuarão ocorrendo. Romper com essa tradição não é tarefa fácil, mas só assim é possível furar a bolha e estabelecer novos caminhos para a democratização da informação.

Aqueles que querem estabelecer a verdade precisam retomar o protagonismo nas redes e explorar o potencial da internet para fortalecer as mídias alternativas, sobretudo, a mediação exercida pelas lideranças intermediárias. Limitar essa atuação a desmentir notícias fraudadas intencionalmente soa como algo ingênuo demais para os tempos que vivemos.

Discutir a comunicação como direito é outra arma para se combater os oligopólios e a indústria das fake news. A comunicação, seja na esfera pública ou privada, não pode ser vista exclusivamente como fonte de renda por aqueles que exercem esse ofício, ou não se chamaria Comunicação Social. Discernir esse caráter é fundamental. Comunicação não é emprego, mas instrumento de luta social.

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